quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Um Ser de Luz

Escrevi este texto em 2007, e apesar de estar um pouco atrasada esta homenagem, ela caberia em qualquer tempo.
Alguém ainda se lembra de quando a nossa música tinha belas vozes?
Pois é, eu ainda fiquei sem conhecer muito dessas maravilhas, mas me lembro da minha infância, meu pai e minha mãe ouviam algumas delas… Mas quero falar de uma em especial que tinha a voz linda, não agradava muitos, pois algumas de suas canções reportavam a determinada religião, mas que até hoje tem seu valor por ter sido uma das maiores intérpretes de samba do nosso país. Vamos falar de Clara Nunes… A Guerreira


“Se vocês querem saber quem eu sou, eu sou a “tal” mineira…”

Clara Francisca Gonçalves nasceu no interior de Minas Gerais, no distrito de Cedro da Cachoeira, na época pertencente ao município de Paraopeba e depois emancipado com o nome de Caetanópolis, em 12 de agosto de 1942. O pai, Mané Serrador, era violeiro e cantador de folias-de-reis. Órfã desde pequena, aos 16 anos foi para Belo Horizonte, onde conseguiu empregar-se como operária numa fábrica de tecidos.

Por essa época cantava no coral de uma igreja, ao mesmo tempo em que, ajudada pelos irmãos, concluía o curso normal. Em 1960 foi a vencedora da final do concurso A Voz de Ouro ABC, em sua fase mineira, com Serenata do Adeus (Vinícius de Moraes), e obteve o terceiro lugar, na finalíssima realizada em São Paulo, com Só Adeus (Jair Amorim e Evaldo Gouveia). Contratada pela Rádio Inconfidência, de Belo Horizonte, durante um ano e meio teve um programa exclusivo na TV Itacolomi. Nessa mesma época, cantava em boates e clubes, tendo sido escolhida, por três vezes, a melhor cantora do ano.

Em 1965 foi para o Rio de Janeiro e passou a apresentar-se na TV Continental, no programa de José Messias. Ainda nesse ano, após teste, foi contratada pela Odeon, que, em 1966, lançou seu primeiro LP, A voz adorável de Clara Nunes, em que interpreta boleros e sambas-canções. Em 1968, gravou Você passa e eu acho graça (Ataulfo Alves e Carlos Imperial), que foi seu primeiro sucesso e marcou sua definição pelo samba.

Em 1972, além de ter realizado seu primeiro show, Sabiá sabiô (com texto de Hermínio Bello de Carvalho), no Teatro Glauce Rocha, no Rio de Janeiro, lançou o LP Clara, Clarice, Clara, com musicas de compositores de escolas de samba e outras de Caetano Veloso e Dorival Caymmi. Ainda nesse ano, gravou o samba Tristeza pé no chão (Armando Fernandes), apresentado no Festival de Juiz de Fora, que vendeu mais de 100 mil copias. Em fevereiro 1973, estreou no Teatro Castro Alves, em Salvador, com o show O poeta, a moça e o violão, ao lado de Vinícius de Moraes e Toquinho. Em 1973 gravou na Europa o LP Brasília e, no Brasil, o LP Alvorecer, que chegou ao primeiro lugar de todas as paradas brasileiras com Conto de areia (Romildo e Toninho). Em 1974, ao lado de Paulo Gracindo, atuou no Canecão, no Rio de Janeiro, na segunda montagem do espetáculo , Brasileiro, profissão esperança, de Paulo Pontes (do qual foi lançado um LP), que contava as vidas de Dolores Duran e de Antônio Maria. Em 1975, ano do seu casamento com o compositor Paulo César Pinheiro lançou Claridade, seu disco de maior sucesso.
Outro grande sucesso veio em 1976, com o disco Canto das três raças. Em 1977 lançou As forças da natureza, disco mais dedicado ao samba e ao partido-alto. Em 1978 lançou o disco Guerreira, interpretando outros ritmos brasileiros. Em 1979 lançou o disco Esperança. No ano seguinte veio Brasil mestiço, que incluiu o sucesso Morena de Angola, composto por Chico Buarque para ela. Em 1981 lançou Clara, com destaque para Portela na avenida. No auge como intérprete, lançou em 1982 Nação, que seria seu último disco. Morreu em 02 de Abril 1983, depois de 28 dias de agonia, hospitalizada após um choque anafilático ocorrido durante uma cirurgia de varizes. Neste mês comemoraria 68 anos se estivesse viva.
Biografia: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e PubliFolha

Uma música marcou muito após a sua morte foi “Um ser de luz”, que foi gravada por sua melhor amiga a cantora Alcione (a “Marrom”)e a letra feita por seu marido Paulo César Pinheiro, João Nogueira e Mauro Duarte.

UM SER DE LUZ

Um dia
Um ser de luz nasceu
Numa cidade do interior
E o menino Deus lhe abençoou
De manto branco ao se batizar
Se transformou num sabiá
Dona dos versos de um trovador
E a rainha do seu lugar
Sua voz então
Ao se espalhar
Corria chão
Cruzava o mar
Levada pelo ar
Onde chegava
Espantava a dor
Com a força do seu cantar
Mas aconteceu um dia
Foi que o menino Deus chamou
E ela foi pra cantar
Para além do luar
Onde moram as estrelas
A gente fica a lembrar
Vendo o céu clarear
Na esperança de vê-la, sabiá
Sabiá
Que falta faz tua alegria
Sem você, meu canto agora é só
Melancolia
Canta, meu sabiá,
Voa, meu sabiá
Adeus, meu sabiá,
Até um dia

Sabiá foi o apelido mais que carinhoso que Paulo César lhe deu; e o fez por que a comparava a um sabiá. O sabiá é o pássaro de canto mais doce e profundo que existe. O sabiá-laranjeira é uma ave brasileira, das mais populares, citada por diversos poetas como o pássaro que canta no tempo do amor, ou seja, na primavera. Também conhecido como sabiá amarelo ou de peito roxo, é um dos melhores cantores do mundo… E Clara também o foi…

Veja que apenas uma de suas músicas que falava da difícil vida da escravidão, hoje fala muito de todos nós…

Fico emocionada com o amor e o prazer que ela expressava em cada música que cantava… era mesmo uma Guerreira esta mulher e uma intérprete como não se vê mais.
Sinto falta de uma voz assim tão limpa e clara.
Mas muitas fazem falta.
Canta meu sabiá, Voa meu sabiá, Adeus meu sabiá… Até um dia…